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A oralidade filigranada


Beatriz Alcântara, Jornal O POVO

Publicado em 26 de agosto de 1990


Conhecemo-nos no curso de Mestrado em Literatura na Universidade de Brasília. Primeiro observei seu modo de ser mineiro, ou seja, um olhar entre tímido e amistoso que fazia-se acompanhar de silêncio, muito silêncio. Num trabalho em grupo descobri o texto de Stela. Um encantamento. Mais tarde convidei-a para participar do livro O outro lado do olhar, um questionamento sobre o discurso feminino, e constatei, com muita alegria de ser sua amiga, a humildade de que já publicara tanto e com tal qualidade que as editoras nacionais disputavam cada novo texto seu. Surgiu, logo depois, a consagração de Stela Maris Rezende: o livro Alegria Pura recebeu o primeiro lugar da Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, categoria infanto-juvenil, 1988. A autora gosta de dizer-se uma contadora de histórias e isto é por certo mais uma “mineirice” de ser, pois sua narrativa, pródiga em sensibilidade, tem a arte da oralidade filigranada. À sonoridade lúdica das palavras Stela associa um fio narrativo que não tem pressa, como a vida entre as serras de Minas, e por esta mesma razão desconhece o hermetismo. Ainda que vagarosa a narração o domínio da autora não permite que o conteúdo dramático de seus contos e novelas chegue a ameaçar perder-se no relato, tal a desenvoltura com que imprime precisão ao enredo. Stela Maris Rezende possui a difícil arte do ser simples.

Beatriz Alcântara é escritora e ensaísta


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