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Resenhas sobre "A sobrinha do poeta"


Sempre me perguntei: que texto pode ser considerado boa literatura? Não quis buscar a resposta em compêndios acadêmicos, ou ouvir as vozes de professores, editores ou livreiros. Então formulei meu próprio conceito. Boa literatura é aquela que o personagem não nos abandona. Quem se esquece de: Capitu de Machado; Gregório Fortunato e Alberto Mattos de Rubem Fonseca; Luís Silva e Baleia de Graciliano Ramos; Carlos e Elza de Mário de Andrade; e de Totonhim e Nelo de Antônio Torres? Para citar só alguns. Pois bem, ontem mesmo, fui às Minas Gerais; senti o cheio de biscoito de queijo e do café fraquinho com leite desnatado que Gária gosta de tomar. Aí, interrompi a viagem e fui até a cozinha para preparar café com leite; não resisti. Como não tinha biscoito de queijo, assei uns pãezinhos, também de queijo, dando-me por muito satisfeita; ara, mas tá. Retomei a leitura e me dispus a escutar o diz-que-diz dos moradores de Dores do Indaiá e até a ouvir a voz do entojo de Dona Terenciana. Vi a soleira das casas, um armarinho desabitado, a tinturaria do Marconi, o armazém de Cleonice. E foi aí que levei um susto: o imbróglio do envenenamento estava sendo comentado. Mas tudo isso é só um detalhe, para quem se dispôs a falar de boa literatura. O que contou e conta mesmo é o curso de corte e costura que fiz ao ler "A Sobrinha do Poeta”, (Editora Globo, 2012) de Stella Maris Rezende. Não, gente, não estou maluca, ou não estou falando coisa com coisa. “... é curso de escrita mesmo [...] Corte e costura é o que se precisa fazer, no molde com as palavras.” Com uma riqueza de metalinguagem, Stella aponta para a necessidade de amarmos as palavras, conhecermos seus significados e as usarmos bem. Sem didatismo, o texto ressalta a necessidade de frequentarmos boas bibliotecas, amarmos os livros, os textos, os poetas e, principalmente, nos sentirmos na obrigação de, com nossos atos, fazermos algo em prol da leitura. É com Leodegária Moura, que Stella Maris nos mostra o caminho de como podemos criar uma comunidade leitora. E aí, volto ao começo do meu texto: Leodegária Moura não sairá mais de perto de mim. Isso é, ou não boa literatura?

Dag Bandeira, escritora, autora de “Visão distorcida”, entre outros | 2015

 
A literatura sensível e inteligente de Stella Maris Rezende Isabela Lapa
Em "A Sobrinha do Poeta" somos conduzidos a uma envolvente e misteriosa trama que se passa na cidade de Dores do Indaiá. Quando escritos misteriosos começaram a aparecer nos livros da "sexta prateleira de baixo para cima da sexta estante diante da janela de vidro", os moradores da cidade ficaram agitados, preocupados e ansiosos para saber quem era o verdadeiro responsável por aquele ato.
"O tempo foi passando. O caso dos escritos nos livros da sexta estante e sua sexta prateleira de baixo para cima diante da janela de bisotê foi se espalhando por Dores inteira. Dores inteira diante da janela de vidro bisotê".
Alguns só pensavam em descobrir, outros tinham certeza de que a proeza era da Leodegária, a única que realmente se interessava por livros na cidade e que era sobrinha do poeta Emílio Moura. Enquanto isso, um menino começou a ter pesadelos com os acontecimentos, que na visão da diretora da biblioteca eram uma violação ao patrimônio público.
"Leodegária pensou em dizer: não acho bom uma pessoa escrever com canetinha iriscor num livros da biblioteca da escola de Dores, mas o mais grave é que há poucos leitores em Dores. Daí, a gente saber que temos um leitor que também gosta de escrever dá um alívio sabe? O erro passa a não ser tão grave assim. Precisamos olhar tudo isso com outros olhos. O mais importante é o incondicional direito de ler e escrever".
Com um narrativa poética e repleta de características da linguagem mineira, a história se desenvolve de forma extremamente agradável e lúdica. Ao mesmo tempo em que apresenta os acontecimentos gerados pelos textos que apareciam nos livros, Stella permeia o psicológico dos personagens e nos mostra a essência dos conflitos da alma humana. O gostoso dessa obra é que o mistério permanece até o final e a sensação de não saber quem é o grande responsável por toda aquela agitação instiga, prende a atenção e não nos permite largar o livro.
"A pista era um mistério. Ele só saberia que aquela era a indicação orientação resposta quando a lesse com o olhar de alguém que lê as palavras pelo simples prazer de lê-las, por causa do som das palavras, por causa da música das palavras, pela simples existência das palavras, (...)".
Também é importante mencionar que o livro demonstra a importância e as maravilhas da leitura, o que é essencial para desenvolver o gosto das crianças pelos livros.
Destaques: - No livro encontramos a íntegra do poema A Casa, de Emílio Moura e ao longo da história versos do mesmo são colocados no texto. - O livro ganhou o prêmio "Bolsa para autores com obra em fase de construção", da Fundação Biblioteca Nacional.

Universo dos leitores | Postagem: A literatura sensível e inteligente de Stella Maris Rezende | 7 de outubro de 2013

Disponível no Universo dos leitores

 
O (a) misterioso (a) leitor (a) da biblioteca
Talvez mensagens perdidas de tua alma ainda nos venham a certa luz de alvoradas. (Emílio Moura. A Casa).
Stella Maris Rezende é autora do livro “A sobrinha do poeta” (Ed. Globo, 2012), com ilustrações de Soud. Stella Maris é mineira de Dores do Indaiá, cidade natal do poeta Emílio Moura. O ano passado dois livros desta escritora receberam, respectivamente, o prêmio Jabuti na categoria juvenil – “A mocinha do Mercado Central” (1º. lugar) e “A guardiã dos segredos de família” (2º. lugar). O ilustrador Rogério Soud (Soud) é natural do Rio de Janeiro, radicado em São Paulo, ilustrador de quadrinhos, revistas e livros de literatura infantojuvenil. As ilustrações do livro “A sobrinha do poeta” são em grafite com um leve toque de lilás. Drummond era muito amigo do poeta Emilio Moura e a primeira ilustração do livro retrata os dois amigos sentados, conversando em uma cafeteria. Dores do Indaiá é uma pequena cidade do centro-oeste de Minas Gerais, fica distante das grandes metrópoles. Belo Horizonte é a mais próxima e está a 255 km. A população é de 15.000 hab. Stella Maris revela uma afeição especial por sua cidade e sempre escreve livros retratando o ambiente de Dores do Indaiá. “A sobrinha do poeta” é mais um livro que tem como cenário a cidade natal da escritora. É cheio de mistérios, inovações linguísticas e modismos mineiros. A história gira em torno da biblioteca Umbelina Gomes e de um caso inusitado que envolve toda a cidade. A bibliotecária observa que os livros que estão situados na sexta estante da sexta prateleira, junto ao vidro bisotê, vêm sempre com anotações, textos escritos em suas páginas com caneta “ iriscor,” lilás. Quem será esse misterioso leitor ou leitora? O fato desperta a curiosidade de todos. As mulheres, que antes se ocupavam em assistir novelas, trocar receitas de bolo, fofocar sobre a vida alheia, estão curiosas para saber quem é o fantasma que aparece à noite e escreve nos livros que estão na sexta estante da sexta prateleira. Inicialmente as suspeitas recaem na professora bibliotecária Leodegária (Gária) Moura, a sobrinha-neta do poeta Emílio Moura. Além do parentesco com o poeta, ela gostava muito de ler, incentivava os alunos a frequentarem a biblioteca, gostava de contar histórias e de ler em voz alta. Os livros dessa estante especial vinham com “acrescentamentos”. O 3º. capítulo de Dom Casmurro foi acrescentado de mais dez linhas, tudo escrito com caneta “iriscor”. O conto de Clarice Lispector – “Felicidade clandestina” – ganhou um parágrafo inicial. Quando era acusada de ser a autora das anotações nos livros, Leodegária se justificava dizendo que os escritos eram feitos à noite depois que trancava a biblioteca, assim não podia ser ela a autora de tamanha façanha. E vinham as especulações:
“Olha só como essa moça é ladina. - Ladina demais da conta! - Ela escreve e depois pergunta quem será que escreve. -Sabidência dela...” (2012: p.17).
Um dia a diretora da escola, Dona Terenciana, resolveu acabar com o tal mistério – levou todos os livros da sexta estante que estavam na sexta prateleira e os colocou no quartinho de fundos da sua casa. A criatura “escrevente escrevinhadora escrevedora” ficou em hibernação. E a história se encaminha para o cotidiano das pessoas. Agora vamos conhecer a vida dos habitantes da cidade, o que fazem, o que conversam, os dramas familiares. Leodegária (Gária) tinha um namorado – João Francisco, um rapaz estúpido e simplório e a moça resolveu acabar o namoro. Inconformado por ter sido abandonado, o rapaz tenta estuprá-la dentro da própria biblioteca. Para se defender das investidas do ex-namorado, Gária utiliza um instrumento cortante e comete um crime. Depois ficou provado que matou em legítima defesa. No júri, a professora foi absolvida. Passado algum tempo, os livros que estavam guardados na casa da diretora voltam para a estante que tinha permanecido vazia. Será que o (a) leitor (a) misterioso (a) vai voltar? Garanto que sim. Quem será? Adianto uma coisa – não é Leodegária. Lembram-se do leve toque lilás das ilustrações? Esta cor violeta está presente na ilustração da capa e em todas as ilustrações internas. A razão para isso? A criatura “escrevente escrevinhadora escrevedora” fazia os acréscimos nos livros com esta cor. Nas últimas páginas do livro, o leitor se depara com a transcrição integral do poema “A Casa”, do poeta Emílio Moura. Começamos este texto com uma epígrafe do poema “A Casa”, de Emílio Moura e vamos terminar com versos desse mesmo poema:
Passo esponja na cortina que o tempo célere tece. [...] Uma janela invisível espreita a vida, lá fora.

Neide Medeiros Santos é doutora em Estudos Literários – UNESP/Car, leitora votante da FNLIJ e colunista do jornal “Contraponto”. | 2013

 
A sobrinha do poeta - Stella Maris Rezende
A nossa gostosura de leitura da vez é um livro da mineirinha Stella Maris Rezende. Ele é recheado de uma trama saborosamente misteriosa e de uma linguagem regional característica, a qual nos deixa com gostinho de pão de queijo na boca. Estou falando do livro: A sobrinha do poeta. É com alegria pura que inauguramos o nosso projeto! E felizes por começar com essa maravilhosa autora! Stella Maris Rezende é natural de Dores do Indaiá, Minas Gerais. É mestre em literatura brasileira pela Universidade de Brasília. A autora recebeu vários prêmios por suas obras: João-de-Barro (três vezes); Altamente Recomendável para Jovens (FNLIJ); Prêmio Fundação Biblioteca Nacional; Literatura para Todos (MEC); Barco a Vapor; Fundação SM; Três indicações ao Jabuti. Stella também é atriz. Atuou em alguns programas de televisão, mas acima de tudo, ela é a artista das palavras - a escritora! Desenvolveu muitos projetos em escolas, promovendo a aproximação do leitor com o escritor. Ela também já morou em Belo Horizonte, Brasília e atualmente, reside no Rio de Janeiro. A sobrinha do poeta é uma gostosura de leitura! Uma formosura de escritura! O livro ganhou o Prêmio Bolsa para Autores com Obra em Fase de Conclusão, da Fundação Biblioteca Nacional. Stella brinca com as palavras de maneira muito criativa! Ela usa um recurso inovador de escrever três ou quatro verbetes em sequência, não separados por vírgula e geralmente sinônimos, tornando a leitura divertida. Veja, no seguinte trecho do seu livro:
"De exato o dia mais terrível turbulento tenebroso da vida de Leodegária Moura." (página 70, segundo parágrafo do livro A sobrinha do poeta - Stella Maris Rezende).
A envolvente trama fala dos escritos nos livros da sexta prateleira de baixo para cima da sexta estante diante da janela de vidro bisotê e é tão bem amarradinha, que até no último momento da leitura, ainda não desconfiamos de quem seja o autor dos registros da misteriosa canetinha iriscor. Outra característica marcante do livro é a linguagem poética, cravejada de sotaque mineiro: uma joia! Essa combinação deixa o texto sofisticado e lúdico. A autora fala por meio dos personagens para contar o enredo, elucidando sutilmente o íntimo psicológico dos integrantes da história, trazendo naturalmente à baila, os conflitos cotidianos intrínsecos à alma humana. Stella nos presenteia com a íntegra do poema A Casa, de Emílio Moura, ao final, e no decorrer do texto, ela vai inserindo, sutilmente, versos do mesmo. Que maravilha! Agora, quero convidá-los para um gostoso papo sobre Stella Maris e sua obra. Sejam todos bem-vindos! Jaqque Monteiro.

Jaqque Monteiro | In: Gostosura de leitura! | 2012

Disponível em Gostosura de leitura!

 
A sobrinha do poeta Moda. Estilo
Uma série de fatos inusitados abala a rotina da pacata cidadezinha mineira de Dores do Indaiá. Sem que ninguém saiba por que, os livros da biblioteca da escola passam a apresentar anotações feitas à mão. De boca em boca, a notícia se espalha e faz da biblioteca o assunto mais comentado pelos moradores, até então pouco interessados em literatura. Dores do Indaiá é a cidade natal do poeta Emílio Moura, que na década de 1920 integrou a chamada geração de modernistas mineiros, ao lado de Pedro Nava e do amigo Carlos Drummond de Andrade. E é uma Dores do Indaiá imaginária que a autora Stella Maris Rezende – também cidadã dorense – descreve em A sobrinha do poeta, uma trama cheia de suspense, protagonizada por uma fictícia sobrinha de Emílio Moura: Leodegária, a bibliotecária local. Em uma narrativa embalada pela sonoridade do falar mineiro, Stella reproduz a atmosfera interiorana das Minas Gerais como pano de fundo para uma história que, ao se desenvolver rumo à solução do caso da biblioteca, revela como toda uma comunidade pode ser afetada pelo grande mistério da arte literária. Romance de ficção com referência a pessoas e fatos concretos, A sobrinha do poeta presenteia o leitor com a íntegra de A Casa, poema de Emílio Moura que está estreitamente ligado ao enredo do livro. A autora Stella Maris Rezende é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília, atriz e premiada autora de livros infantojuvenis. Nascida em Dores do Indaiá, viveu parte da infância em Belo Horizonte e mudou-se para Brasília em 1962. Mora no Rio de Janeiro desde 2007. Em 2011, lançou A mocinha do Mercado Central.

Moda. Estilo | In: Site Refrescante | Maio de 2012

 
Em A sobrinha do poeta, como nas demais obras de Stella Maris Rezende, as heranças mineiras são convertidas em visão e forma de expressão artística. Entre outras nuanças do livro, a escritora se projeta no narrador e em algumas personagens, como a escritora que lhe oferece a história e a intrigante figura que se esconde atrás dos indícios deixados na sexta estante de uma biblioteca. Assim, ela enreda a intriga em que a literatura tece a si própria como teia e a leitura descortina novo entendimento ao olhar, revelando-se promissora de liberdade e mudança para uma pacata cidade e seus dormentes cidadãos. Criando enigmas, a trama enlaça, em adorável cumplicidade, escritores, poetas, leitores e a professora de linhagem poética. Confirmo a minha admiração pela singularidade stellar, recorrente nesta história, traduzindo o talento inconfundível da escritora, sempre ardilosa e sutil na armação de enredos, ao enveredar por mistérios, não apenas aqueles que se esclarecem com fatos, mas, sobretudo, os essenciais à condição humana, que escapa a desvendamento e explicação. A qualidade maior do adensar-se delicado nessa condição resulta do trato laborioso dos efeitos de linguagem com que a autora dribla, pela leveza, o que há de mais complexo, velado em realidades aparentemente pequenas e banais. Ao trazer à luz o mistério em torno dos originais do poeta modernista de Dores do Indaiá, Stella, sem limite de tempo e chão, alarga significações que afinam a beleza da arte e a perplexidade da existência.

Vânia Maria Resende, Doutora em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa

In: orelha do livro "A sobrinha do poeta"

 
A cidade de Dores do Indaiá vive um mistério. Na biblioteca da escola, enigmáticos escritos à mão começam a brotar das páginas dos livros. Não em qualquer livro, mas apenas nos volumes da sexta estante, da sexta prateleira de baixo para cima, diante da janela de vidro bisotê. À medida que crescem as especulações em torno da identidade do autor das anotações, a antes esquecida biblioteca entra no foco do interesse de todos os moradores. E, aos poucos, transforma-se no centro de episódios decisivos para uma galeria de personagens: a diretora da escola, os alunos, as donas de casa, a cozinheira, o sapateiro e, claro, a moça da biblioteca, sobrinha do poeta Emílio Moura – cuja obra está ligada ao mistério que mexe com a vida da pacata cidade.

Globo Livros

In: quarta capa de "A sobrinha do poeta"

 
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