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Resenhas sobre "As gêmeas da família"


Premiada escritora, Stella Maris Rezende surpreende com esse livro que encerra a trilogia "A mocinha do Mercado Central". As dores do amadurecimento são narradas de forma original, por uma escrita que não desmerece a inteligência de seu jovem leitor ao mesmo tempo em que traz novidades, como a narrativa estruturada a partir do olhar de objetos.

Ubiratan Brasil, jornalista e crítico literário | 2017

 
"As gêmeas da família" (Stella Maris Rezende) Luís de Lima
O livro "As gêmeas da família" é uma parábola maravilhosa sobre a aventura e as circunstâncias da vida, onde os sentimentos e suas necessidades instintivas estão sempre às voltas com a razão. O roteiro é interferido pela cultura, pelos relacionamentos e pelas idiossincrasias de cada um. Todo escritor ambiciona emocionar o leitor. Essa obra vai mais além. Mostra-nos que escrever é tecer e vestir o tempo com trabalho e arte, que as virtudes precisam de coragem e de emoção. Como não sofrer?... Cessando o querer?... Impossível! A resposta está na busca do sonho, como se fosse algo exequível. Isso atrai a sorte e quebra o silêncio intemerato. A escritora costurou a história - e aproveito sua própria metáfora - com mãos de fada, tornou a narrativa cheia de mistérios e magias, paralelamente a um discurso cheio de realismo e sabedoria. Com vocabulário rico, explorou, além do velho, o neologismo. Teceu a trama como um lindo e grande trabalho de crochê, com alguns pontos e desenhos repetidos, para dar forma a um todo belo e bem cosido. Ao ler essa obra, o espectro de Machado de Assis, certamente, sorriria, com sua alma perambulando pela história, entre a Glória e o Catete, e diria: "Não está na hora de trazer essa vizinha, que mora em Botafogo, para a Academia?" Já o conterrâneo da escritora, o mineiro Carlos Drummond de Andrade, do seu banco em Copacabana, emendaria: "Essa moça precisa ser por todos reconhecida. Levem-na ao Programa do Faustão e ao Fantástico em seguida." E eu digo nas despedidas: "Minha querida amiga, arrume lugar na estante, para que mais tartarugas sejam exibidas."

Luís de Lima, escritor, autor de Adler, o paraquedista (Age, 2012) | 2014

 
A literatura sensível e inteligente de Stella Maris Rezende Isabela Lapa
Neste livro, que encerra a trilogia "A Mocinha do Mercado Central", conhecemos três irmãs gêmeas que viveram no ano de 1965. Além de enfrentarem os dramas da Ditadura Militar as meninas eram marcadas por uma maldição de família e uma promessa da mãe. Mesmo não sendo amigas entre si, elas cultivavam um amor em comum: a música de Rita Pavone, uma cantora italiana de música pop. Em razão desse enorme sentimento pela cantora, elas se uniram para fazer uma viagem ao Rio de Janeiro e assistir a um show de Rita. Essa viagem mudou o rumo das três, que se tornaram amigas inseparáveis em razão das alegrias e das dores que sofreram nos dias em que estiveram na cidade maravilhosa. Vários pontos chamaram a minha atenção neste último livro, que sem dúvida se tornou o meu preferido entre os três:
- Os nomes das três irmãs: Maria da Caridade (Rosade), Maria da Fé (Azulfé) e Maria Esperança (Verdança); "Rosade: - Em nome do meu nome, faço a caridade de suportar vocês, mas assim que eu puder, desapareço no mundo, igual o meu pai fez." "Azulfé: - Em nome do meu nome tenho fé de que ainda terei uma vida inteira de felicidade sem nenhuma maritaca gêmea perto de mim, ara se vou." "Verdança: - Em nome do meu nome mantenho a esperança de que não preciso me livrar de vocês. Para mim, já é como se não existissem, eu sou filha única."
- A narrativa em terceira pessoa foi estruturada sob o ponto de vista dos objetos que estavam ao redor das personagens e que observavam algo sobre elas. Assim, conhecemos as garotas pela ótica do retrato, da máquina, da maçaneta da porta, do calor da tarde etc. "Mesmo consciente da má vontade que as filhas tinham em relação à mãe, a maçaneta gostava das trigêmeas. Gostava dos mistérios que as cercavam ou viviam dentro delas. Era uma maçaneta sempre atenta, solícita, prestativa. E aprendera muito sobre as pessoas, desde que fora instalada naquela casa".
- Trata-se de uma história de amadurecimento. Stella mostrou que a vida não tem regras pré estabelecidas, mas que em suas surpresas, curvas, desgostos e dores que nos tornamos pessoas melhores e mais fortes. A leitura ensina a importância de ter amigos e de estar aberto às mudanças. "- Vivemos bem embora às vezes a gente se estranhe. As pessoas às vezes se estranham. As coisas às vezes se estranham. O estranhumano está em toda parte".
São três livros para jovens leitores que merecem ser lidos por leitores de todas as idades. Poéticos, inspiradores, inteligentes, bem construídos e inesquecíveis! Entre os livros atuais do gênero, eles já estão na minha lista de preferidos bem ao lado da minha amada coleção da Adriana Falcão.

Universo dos leitores | Postagem: A literatura sensível e inteligente de Stella Maris Rezende | 7 de outubro de 2013

Disponível no Universo dos leitores

 
O que aprender com "As gêmeas da família" Ronize Aline
O que aprender com As gêmeas da família. O que faz uma obra ser premiada? Quais os segredos por trás da criação literária que a destacam das demais? Livro que completa a trilogia iniciada com A mocinha do Mercado Central (2011) e seguida por A sobrinha do poeta (2012), As gêmeas da família, de Stella Maris Rezende, já chega com bons antecedentes. O primeiro livro da série venceu o Prêmio Jabuti 2012 na categoria Melhor Livro Juvenil e Jabuti de Livro do Ano de Ficção. Nessa resenha vamos conhecer um pouco mais do volume que encerra a trilogia e aprender com a escrita criativa de Stella.
O livro Três adolescentes gêmeas vivendo numa pequena cidade mineira nos idos de 1965. Em plena ditadura militar, ali o que desafia a esperada radiância da mocidade é menos o resultado dos desmandos de um governo autoritário e mais o peso da maldição que há anos assombra as gêmeas da família. Além do peso da maldição, as irmãs precisam lidar com o sacrifício que uma promessa feita pela mãe lhes impinge. Sem saber o que mais lhes aborrece, se a maldição ou a promessa, Maria da Caridade, Maria da Fé e Maria da Esperança seguem céticas, sem tomar conhecimento do significado que seus nomes suscitam. E para não dizer que não há alegria alguma reservada às meninas, há a música. Mais especificamente a música da cantora italiana Rita Pavone, ídolo da juventude da época e único motivo de satisfação na vida das gêmeas. É em torno dessa paixão de fã utilizada como escape de uma realidade tão pouco amistosa que a história se desenrola. Rita vira personagem, e daquelas que entram na história para provocar grandes mudanças. Mudanças que vão tomando conta das três Marias sem que elas se deem conta. Stella vai desenhando o que, em literatura, é chamado de romance de formação, mas vai além do que se propõe o gênero. À medida que a história se desenrola, vai aprofundando de tal forma as três personagens que podemos quase senti-las ao nosso lado, tocar seu braço e ouvir-lhes a respiração. Já nos apiedamos de seu destino, compartilhamos suas angústias e torcemos por seus quereres. Combinando com a escrita de Stella, o traço de Weberson Santiago traz ilustrações que reforçam a delicadez da história. Tão iguais e tão diferentes. A pena minuciosa da autora consegue criar a diferença na semelhança. Desgostosas, aborrecidas, muitas vezes insuportáveis. Apesar disso, cada qual traz consigo qualidades que, se escondidas a princípio, vão se revelando à medida que o destino lhes impões novos desafios. E, assim, a pequena cidade de Minas se torna universal, já que ao compor três retratos adolescentes singulares em suas características, Stella está também falando de todos os anseios que permeiam os sonhos juvenis.
Destaque Mais do que contar uma bela história, Stella conta uma história bem contada. Seu texto é construído de forma a deslizar pela página e inundar-nos na leitura. Mais do que leitores, somos testemunhas que acompanham de perto, muito de perto, os acontecimentos. E o destaque na sua criação literária é o uso de múltiplos e surpreendentes pontos de vista. Narrado em terceira pessoa, o narrador apropria-se de tudo o que está à sua volta e que pode, de alguma forma, contar algo sobre as gêmeas. Dessa forma, o retrato na parede, a máquina de costura, o balcão da venda, o calor daquela tarde... Até o menos imaginável tem algo a acrescentar à história que, tal qual um novelo de lã, vai se desenrolando e por vezes rola para debaixo do sofá esperando ser novamente puxado para fora. Entre tantas coisas a aprender com As gêmeas da família, fica aqui a dica: experimente contar sua história a partir de um ponto de vista inusitado. Surpreenda seu leitor trazendo uma visão inesperada e diferente da que você apresentaria se usasse um narrador convencional. Você verá quantas possibilidades narrativas esse recurso lhe trará.

Ronize Aline | Postagem: [Resenha] O que aprender com "As gêmeas da família" | 29 de julho de 2013

Disponível no Ronize Aline

 
A trilogia mineira de Stella Maris Rezende Kelson Douglas
Veio lá de Dores do Indaiá essa Stella Maris Rezende. Estudou, escreveu livros, ganhou prêmios e até programa de TV ela foi caçar de arrumar. Vê se pode um trem desses?! Bem, mas não é só dela que quero falar aqui. O que eu quero mesmo é contar pra vocês sobre uma certa trilogia livrística que essa mineira andou lançado país afora, com a ajuda de uma tal Globo Livros. Editora grande. Tem até o mesmo nome daquele canal das novelas, sabe? Então. Toma nota aí: A Mocinha do Mercado Central é o primeiro dos três, de 2011. Ganhou o tal do prêmio Jabuti, que dizem ser a mais importante premiação literária do Brasil. O segundo é A sobrinha do Poeta, de 2012. Bonitinho e com a capa verde. Anotou? O terceiro, desse ano, é As gêmeas da família. Uma gracinha que só. No primeiro, Stella começa com a história de Maria Campos, uma menina do interior de Minas que depois de conhecer a sabichona Valentina Vitória Mendes Teixeira Couto, resolve por o pé no mundo, arruma uma paixonite pel’aquele ator, o Selton Mello e ainda por cima, cisma de usar novos nomes em cada cidade onde passar. É simples assim, mas cheio de sentimentos este livro que, apesar de ser rotulado como infanto-junvenil, é bem do amargo e adulto, viu? Pois então, em uma de suas andanças, Maria Campos comenta sobre um estranho causo de um livro fantasma da sexta estante da biblioteca de Dores, terra da autora e cenário de A sobrinha do Poeta. Espia só: Dizem alguém anda inserindo textos no final de um dos livros do poeta Emílio Moura que fica nessa estante aí. Com uma história muito da mal explicada, a pequena cidade não consegue falar de outra coisa, além, é claro, da coitada da bibliotecária de lá, uma simpática professorinha que de tão culta não consegue agradar as más línguas do interior.
"- Dorinha, apareceu mais uma frase, desta vez num livro da Clarice. - Clarice…? - Lispector. - Lis… - Lispector. Clarice Lispector. - Clarice Lispector. A gente tem que ser exibida pra falar Clarice Lispector."
E por fim, também de Dores, mas de dentro da casa com vista para a Serra da Saudade, vem a última parte, que fala de uma grande aventura envolvendo três irmãs, gêmeas, fãs da italiana Rita Pavone, que vivem para pagar uma promessa que a mãe delas, a dona Ana Clara, fez para a Santa Rita de Cássia em troca de tirar da família uma maldição que assola todas as crianças nascidas no mesmo dia. Com textos rápidos, doces e repletos de mineirês, os três livros da autora são do tipo que você irá querer devorar o quanto antes, como um pão-de-queijo quentinho junto com um copinho de café. Agridoce, as histórias tem em comum a mistura da inocência, às vezes da idade, às vezes do interior, com o peso da realidade violenta, que de vez em quando pode vir através da morte de um ente querido, ou de histórias envolvendo agressões que mostram o pior lado do ser humano. Felizmente a escritora não opta por chocar o leitor. Pelo contrário. Nas três obras a delicadeza é o que prevalece, fazendo com que, independente do final, o leitor possa terminar o livro com um aconchegante sorriso no rosto. Ou seja, são dedinhos de prosa que vão fazer muito bem para os seus olhos, para o espirito e para a sua estante.

Altamente Ácido | Postagem: A trilogia mineira de Stella Maris Rezende | 2 de julho de 2013

Disponível no Altamente Ácido

 
Livro estranhumano, este que conclui a trilogia iniciada com A mocinha do Mercado Central. As gêmeas da família é um livro de delicadeza inefável, cujas palavras se compõem de memórias e tragédias, de afetos e vidas. Palavras fortes e portentosas que dialogam com o universo musical de Rita Pavone, ídolo das três adolescentes da história. Palavras sobremaravilhadas de dentro do coração de cada uma das personagens. Palavras milagrosas que vivem e participam da experiência de crescimento das gêmeas. Assim como todos os objetos que elas encontram, com os quais cruzam e interagem. Palavras que concorrem a uma extraordinária unidade entre realidade e ficção. Um livro de literatura juvenil? Muito mais. Juvenil e estranhumano, se o leitor estiver atento e perceber que o estranho e o humano estão em toda parte.

Biagio D´Angelo, escritor, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro Infantil em 2012 | 2013

 
As gêmeas da família Globo Livros
No terceiro livro de sua trilogia de livros juvenis, iniciada com A mocinha do Mercado Central, a escritora Stella Maris Rezende lança As gêmeas da família, em que conta a história das trigêmeas idênticas Verdança, Azulfé e Rosade. Apenas a voz e a expressão do rosto as distinguem, além das cores das roupas que, por associação, ajudaram a formar os apelidos de cada uma. Por promessa da mãe, até completarem 18 anos de idade, a festiva Maria da Esperança precisa se vestir de verde, a serena Maria da Fé só pode usar azul, e a séria Maria da Caridade tem de se contentar com um figurino exclusivamente cor-de-rosa. Adolescentes dos anos 1960 no interior de Minas Gerais, as três garotas compartilham a frustração de não arranjar namorado e a paixão pela cantora pop italiana Rita Pavone – além de uma suposta maldição que paira há gerações sobre todas as mulheres gêmeas da família. Em As gêmeas da família Stella Maris conta o mirabolante plano das meninas de viajar às escondidas ao Rio de Janeiro para conhecer Rita Pavone em pessoa a partir de originais pontos de vista: objetos inanimados, animais de estimação e até elementos da natureza se alternam no papel de narradores testemunhais das desventuras de Verdança, Azulfé e Rosade. A viagem conduz o trio por uma trajetória de descobertas (de si mesmas, da relação entre elas, da afetividade com a mãe) e de amadurecimento pessoal, tendo como pano de fundo um Brasil recém-mergulhado na ditadura militar. As ilustrações de Weberson Santiago acompanham a narrativa. As gêmeas da família traz também texto de apresentação assinado pela própria Rita Pavone, que acaba de completar 50 anos de carreira. O escritor Luiz Ruffato assina o texto de orelha e o vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro Infantil 2012, Biagio D’Angelo, assina a contracapa.

Site da Globo Livros | 2013

 
As gêmeas da família é um livro que exemplifica, de maneira expressiva, por que Stella Maris Rezende é uma das mais importantes cultoras da literatura infantojuvenil brasileira. A autora, sem fazer concessões, coloca seu enorme talento e privilegiada sensibilidade a serviço da construção de uma história que encanta pela trama e seduz pela linguagem, enovelando-nos de tal maneira que, sem dar conta, nos vemos, ao fim da leitura, transformados na essência, o que só os grandes livros conseguem. Os grandes livros são aqueles que se entremostram em suas várias camadas. “As gêmeas da família” é narrativa de mistério, porque conta o drama das trigêmeas sobre as quais pesa uma maldição, e cuja mãe, uma costureira abandonada pelo marido, faz uma promessa para livrá-las de um destino predeterminado. É ainda romance de formação: após um rito de passagem, com direito à participação especial da cantora Rita Pavone, irrompem-se adultas. É também crônica de uma época: a autora faz reviver magistralmente uma cidadezinha do interior de Minas, o Rio de Janeiro da década de 1960, os horrores da ditadura militar. Mas uma história só se transforma em literatura por meio da linguagem. E Stella Maris entende tudo do ofício. Quando precisa, lança mão de neologismos (estranhumano), arcaísmos (ponhação, amistança), expressões regionais (botar reparo, ingresia, latomia) e termos da linguagem culta, edificando assim uma narrativa que captura o leitor desde a primeira linha e o conduz, pelo cabresto, até a última. E ao final fica-nos a certeza, a de que a vida se renova a cada novo sonho.

Luiz Ruffato é escritor, autor de Eles eram muitos cavalos (Record, 2007), entre outros livros | 2013

 
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