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Resenhas sobre "Justamente porque sonhávamos"


Ainda na série # euleiomulheresvivas, mas muito mais que isso. Trata-se de Stella Maris Rezende, mineira brasiliense, como tantas de nós, e grande escritora, cuja coleção de prêmios comprova. Acabo de ler dela “Justamente porque sonhávamos” (Globo Livros), uma deliciosa aventura de uma turma de amigos numa cidade abandonada pela sorte, onde a juventude resiste porque sonha e ama. Onde a palavra é a salvação. Onde tudo parece tão perdido que só pode haver luz no fim do túnel. As personagens principais são Suzana, Crispim, Lucília e Agenor. Jovens moradores de Ponta Escura, lugarejo marcado pelo abandono dos filhos pelos pais, sina herdada do tempo da ditadura. A não ser por Crispim, que vive com o pai, o melhor professor de português, incentivador da leitura e da poesia, os demais resistem contra tudo. As meninas amam ler. E Agenor tenta, por outros caminhos, conquistar seu lugar num mundo em que a cor da pele se interpõe ao afeto da avó que o cria. Stella vai fundo na brincadeira com palavras, apresenta termos que poucos conhecem, mas que todos entendem. É tranchã! Facilmente o leitor se apaixona pela menina que ama o teatro, pela outra, da boca maldita, pela resiliência de todos que relutam em aceitar a moira e apostam na transformação. É possível! É ao mesmo tempo divertido e profundo, angustiante e esperançoso. O sonho mantém vivos e lindos esses jovens, e todos que nos irmanamos a eles.

Clara Arreguy, jornalista e escritora | 2017

 
Stella Maris Rezende nos entrega “Justamente porque sonhávamos" (Editora Globo S.A., 2017) numa atmosfera de mistério, aventura, certezas e incertezas sobre certo lugar estúrdio em algum recanto das Minas Gerais. Os personagens, jovens com suas Angústias e Solidão, vivem numa Macondo e estão à procura, não do mar, mas de descobrir e reverter a causa de seu abandono. Transitando por vários pontos de vista, Stella Maris trabalha várias narrativas. Já no início do livro, o plural empregado (“...mas naquela época não imaginávamos que o drama do nosso...”) nos leva a crer que o narrador é um dos personagens da história. Em seguida, ouvimos o narrador onisciente que, muitas vezes, entrega ou deixa sua palavra ser tomada por um personagem que, com propriedade, melhor falará sobre suas questões. A caracterização dos personagens é trabalhada com esmero: Gildinho lesadinho, religioso de carteirinha; Fedorico, com sua boca malcheirosa; as filhas de Maria, desejosas de uma vergonha emocionante; o professor que desaparece; dona Zildete, louca para assistir a teatrama; Seguinte e Glaucia, namorados, e muitos outros. Suzana, Agenor e Crispim formam o triângulo amoroso que instiga os leitores a torcer e querer descobrir quem conquistará o coração da ponta-escurense apaixonada por teatro. Várias referências nos são apontadas: a literária (Virgínia, Drummond e Graciliano), musical (Lupicínio) e histórica (a ditadura e, mais recentemente, a ocupação das escolas pelos alunos) e promovem a curiosidade no leitor, fazendo com que ele se interesse por conhecer melhor a nossa história. Stella Maris, fazendo uso de seu amor pelas palavras, trata de questões que estão presentes no dia a dia dos jovens: a primeira transa, o suicídio, a vontade de não ter filhos, problemas psicológicos, tudo isso com domínio da escrita e da trama. É para ser lido e relido.

Dag Bandeira, escritora | 2017

 
“Diz que” o mais novo romance de Stella Maris Rezende é um escândalo de maravilhoso. A começar pelo título. Um atentado de tão instigante e poético. E que capa é essa da Renata Zucchini? Linda de doer. Outro atentado. Vai daí esta escritora nos arranca do conforto sossegado, mexe e remexe na imaginação, nos sentimentos, nas certezas da gente, deixa tudo “transmudado”. “Ara, mas tá”, que novidade... só que não, né? Stella é Stella, fazedora de inquietações das boas, dessas que provocam um rebuliço rebuliçoso em nosso íntimo; suas palavras nos tocam tão visceralmente, que nunca que a gente volta a ser o que era, depois de ler Stella. “Justamente porque sonhávamos”, Editora Globo, é uma obra-prima, gente. E o que dizer mais desta escritora que não se cansa de superar a si mesma, quando o assunto é o poder de usar as palavras? Ela ganhou o mundo e não sabe que já é uma das Grandes.

Leticia Sardenberg, escritora | Facebook, 2017

 

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