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Resenhas sobre "Desforra"


Dica – Desforra, de Stella Maris Rezende André Giusti
Stella Maris Rezende é uma das grandes vencedoras do Prêmio Jabuti, essa espécie de Taça Libertadores da literatura brasileira.Em 2012, ela conseguiu a proeza de faturar três canecos em uma única edição do prêmio. Apenas A Mocinha do Mercado Central levou dois: o de melhor livro juvenil e o Livro de Ficção do Ano. Aliás, A Mocinha do Mercado Central é um livro juvenil que pega de jeito qualquer adulto. E numa época em que o Jabuti premiava os três primeiros colocados, outro livro da autora, A Guardiã dos Segredos de Família, ficou em segundo lugar. Ou seja, Stella ganhou dela mesma. Agora, a escritora dá um tempo na literatura infantil (repito: os livros juvenis de Stella Maris seguram qualquer leitor adulto) e entra no mundo dos livros adultos. Desforra é a história de uma preparadora de originais de uma editora que pega um livro cuja autora desistiu de publicar. Nas mãos dessa mulher, os personagens abandonados ganham vida nova, colocando em cima da mesa temas como desigualdade social, racismo, machismo e violência contra a mulher. A narrativa é ágil, criativa e original, para a qual o leitor precisa ficar atento, pois o ir e vir das situações acontece de maneira rápida, sem dar chance à monotonia. Eu não sou crítico literário que tenha um mapeamento completo do que irá concorrer aos prêmios; sou no máximo um “fazedor” de humildes resenhas com a pretensão de ajudar autores dos quais gosto e também indicar aos leitores coisas que considero de qualidade. E dentro desse espectro, me arrisco a dizer que com Desforra, Stella Maris Rezende é candidata a levar mais um troféu para decorar a estante.

André Giusti | 8 de abril de 2024

Disponível no Blog André Giusti

 
Na desforra tecida pela autora, uma preparadora de textos decide confrontar, sim, e com muito gosto, uma editora que talvez represente o pior do Brasil Ana Claudia Vargas*
Quem falou que vingança é um prato que se come frio, precisa ler Desforra, o recente livro da escritora Stella Maris Rezende. Com a maestria de sempre, a autora consegue até confrontar esse ditado secular e aparentemente ‘certo’ sobre a vingança. Nesse nosso país erguido sobre as bases do colonialismo, cristianismo,  escravismo e elitismo (ufa!), quantas vezes você já ouviu por aí que se vingar não é de bom tom? Que assim você não vai pro céu? Com certeza, muitas! Mas aqui nesta bela desforra tecida pela autora, uma preparadora de textos decide confrontar sim, e com muito gosto, uma editora que talvez represente o pior do Brasil. Imagine essa moça como uma dedicada profissional das letras treinada para fazer seu trabalho de leitora crítica e mais que isso, de uma ‘instrumentadora cirúrgica’ da narrativa alheia, que está ao lado da editora e precisa, portanto, se submeter ao ‘comando’ dela. Pois é, mas acontece que essa moça aqui não vai se submeter não! Ela vai é confrontar a tal editora e o melhor,  vai se unir à autora do livro para desafiá-la, e é isto que fundamenta todo o enredo. É no meio dessa trama inventada com uma criatividade que foge de todos os clichês, que a preparadora desfia com argúcia sua mais que merecida desforra. Ao longo da narrativa, diversas passagens da vida nacional que ficaram entaladas na garganta de todos nós que acreditamos que este país ainda (ainda!) pode ser bom para todos e não somente para uns poucos, são lembradas de forma sutil ou intensa. É aqui que entram perguntas até hoje sem respostas como: por que existe tanta desigualdade social em um país tão rico? Por que a educação continua sendo uma conquista tão difícil para os menos favorecidos e, sobretudo, para a população negra? Por que os professores continuam sendo uma classe tão (e tão) desvalorizada? Por que somos campeões em violência doméstica, em homofobia e em tantos outros números que deveriam nos envergonhar? Por que deixamos que aquela criatura fosse eleita em 2018? Sim, aquela lá que homenageou aquela outra que torturou tantos brasileiros como eu e você nos tempos da ditadura? São muitos aspectos da alma brasileira (conflitantes, intensos, urgentes) que permeiam este livro. E eles precisam ser confrontados todos os dias! Precisamos falar sobre isso até que não seja mais preciso falar sobre isso. Pois neste ‘Desforra’,  Stella Maris criou uma personagem que lava a alma de todos nós que não aceitamos com naturalidade que professores não recebam seus salários em dia, que meninas e mulheres não possam ter liberdade de escolha, assim como todas as minorias, que pessoas negras sejam desrespeitadas nas ruas, nos mercados e em todos os lugares apenas porque são negras. E se você é uma pessoa que mora neste país, neste começo de século XXI, se tanta desigualdade, abusos variados e atraso  lhe deixa com uma baita vontade de gritar, de expressar sua frustração, sua raiva pura e simples, seja inconveniente como a personagem deste livro! Saia cantando, saia conseguindo apesar dos pesares manter o sentimento de revolta, pois é preciso, sim, se revoltar! Seja uma pessoa rebelde, insubmissa, não aceite nada menos que respeito! Seja inconveniente ao máximo, lute como uma pessoa que não está aqui neste país para se submeter ao pensamento retrógrado que quer ditar um modo de vida que cheira a fascismo (credo!), ódio ao conhecimento, às artes e tudo mais que significa vida e esperança. Eu enxerguei tudo isso na trama impossível de ser abandonada deste livro. A gente lê de um fôlego só porque sente essa vontade de (junto com a preparadora de textos) partir pra desforra! Mais que leitores, nos sentimos devidamente representados e vingados por meio da rebeldia indômita dessa adorável (mas não boazinha, hein?) profissional das Letras que ao confrontar uma editora mandona e limitada, expressa, com vigor, nossa gritante oposição a tudo que tem levado esse nosso país ao atraso que nos relega sempre a um futuro que nunca chega. Por fim: leia ‘Desforra’ e lave sua alma! *Editora PortalPlenaGente+

Equipe Plena | 28 de fevereiro de 2024

Disponível no Portal Plena Gente+

 
Escritora Stella Maris Rezende lança romance para adultos em novo trabalho Desforra que se destaca pelo cuidado meticuloso com a linguagem e pelas contradições de um Brasil dividido, é a obra mais feminista, politizada e transgressora da autora
Stella Maris Rezende é uma das vozes mais proeminentes da literatura brasileira contemporânea. Com uma carreira marcada por prêmios e reconhecimentos, ela lança pela Maralto Edições seu primeiro romance para adultos, Desforra, uma obra que se destaca pelo cuidado meticuloso com a linguagem e pelas contradições de um Brasil dividido e imerso no conservadorismo. Com uma carreira que abrange mais de 60 livros, incluindo contos, coletâneas, obras infantis e infantojuvenis, Rezende entrega uma trama rica em metáforas e reviravoltas, que se desenrola em Minas Gerais e em cenas de um Brasil diversificado. Trata-se de sua obra mais densa, feminista, politizada e transgressora. Na trama, a protagonista oscila entre revelar-se e esconder-se, exercendo domínio sobre a narrativa com um desejo persistente e corajoso de vingança. O livro é meticulosamente construído nos desconfortos experimentados por essa personagem, uma preparadora de textos que desafia as convenções com uma mistura de angústia e atitude. Sua rebeldia artística surge em resposta ao racismo da editora-chefe, em meio a lembranças da infância, juventude e idade adulta. A trama se desdobra ao explorar não apenas a protagonista, mas também outras personagens que se entrelaçam com ela, formando um tapete de retalhos que pode ser interpretado como um silêncio profundo ou um grito ressonante para aqueles dispostos a ouvir. Tudo isso se desenrola no contexto dos esboços de uma escritora que abandonou um texto, adicionando uma camada de complexidade à história.
“Em meus livros para crianças e jovens, há muitas críticas à realidade brasileira, à terrível desigualdade social, ao reacionarismo, ao egoísmo das classes abastadas, às injustiças sociais”, explica Stella Maris Rezende. “Em Desforra, meu primeiro romance para adultos, isso se torna mais veemente, pois a fase da escrita mais intensa se deu durante a pandemia e o desmantelo de idéias progressistas e humanizadoras. Sem que eu planejasse, a tessitura do texto traz a tragédia da realidade brasileira, iniciada no dia em que um capitão reformado do exército homenageou o torturador da primeira presidenta do Brasil. Viver é um ato político. Escrever é um ato político, principalmente quando uma personagem narradora não tem medo de dizer o que acha que precisa ser dito.”
Em Desforra, a fusão entre religião e política se desdobra nos eventos, entrelaçando-as, misturando-as e corrompendo-as. Nesse enredo, armadilhas são criadas, manipulações ocorrem, e retrocessos  civilizatórios são articulados, tudo por meio da expressão artística da narradora, que se movimenta entre metáforas, elipses e jogos de revelar e esconder. O livro ecoa fragmentos de duas coletâneas de contos da autora, Dentro das lamparinas e Coração brasileiro, e traz experiências antigas e contemporâneas da protagonista, abrangendo eventos desde 2016 até os dias atuais.
“Em 2023 eu me alegro demais em publicar meu primeiro romance para adultos por uma editora que admiro muito. Estou feliz com isso. Mas sigo na angústia e no susto de trabalhar com os silêncios e as palavras, a realidade cruel e o sonho de mudar essa realidade. Ao ouvir as personagens que se atrevem a dizer o que acham que precisa ser dito, que expõem violências veladas ou explícitas, tenho compaixão por elas, e algumas, as mais injustiçadas, eu abraço, e me junto às lutas que são de todas nós”, finaliza a autora. 
Desforra chega às livrarias e às plataformas digitais de vendas no próximo dia 7 de dezembro e fará parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa direcionada para escolas de todo o país.

Equipe Plena | 6 de dezembro de 2023

Disponível no Portal Plena Gente+


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